A proposta de alteração da escala de trabalho de seis dias trabalhos para um descanso (6×1) para um modelo de quatro dias de trabalho e três de descanso (4×3) desperta uma série de preocupações econômicas que vão muito além do potencial bem-estar dos trabalhadores. Embora a ideia de mais dias de folga possa, à primeira vista, parecer atraente, os impactos econômicos negativos dessa mudança podem ser amplos, afetando a produtividade das empresas, a inovação dos trabalhadores e a sustentabilidade de pequenos negócios.
No modelo 6×1, os trabalhadores trabalham em 44 horas semanais, enquanto na escala 4×3, a jornada semanal tende a ser reduzida para 32 horas. Uma redução significativa no número de horas trabalhadas semanais pode comprometer seriamente a produtividade em setores que dependem de operações contínuas, como indústrias, comércio e saúde, exigindo um aumento no quadro de funcionários para cobrir as horas não trabalhadas. Isso eleva os custos operacionais das empresas, o que precisariam arcar com novas inovações, benefícios e encargos trabalhistas para manter o mesmo nível de produção.
Empresas que não puderem arcar com essas contratações adicionais podem acabar prejudicando a produção ou, ainda, aumentando o preço de seus produtos e serviços para compensar a queda de produtividade, o que impactaria diretamente o consumidor final.
Para as pequenas e médias empresas (PMEs), que representam mais de 70% dos empregos formais no Brasil e têm margens de lucro geralmente mais atraentes, a adoção de uma escala 4×3 poderia ser devastadora. Além de terem menos recursos para contratações adicionais, essas empresas também são mais sensíveis às flutuações nos custos operacionais e, muitas vezes, atuam em setores de alto contato com o cliente, como comércio e serviços.
Ao precisar reduzir a jornada semanal, essas empresas ficariam em desvantagem em relação a grandes empresas, com recursos e estrutura para absorver novos custos. Nesse cenário, as PME poderiam ter cortado postos de trabalho ou até mesmo limitar atividades, levando a uma onda de desemprego e à redução de opções de serviços locais, impactando diretamente a arrecadação tributária e a atividade econômica de pequenos municípios e bairros.
Um dos efeitos mais diretos da adoção de um modelo de quatro dias de trabalho por três de folga seria a possibilidade de revisão dos trabalhadores, especialmente em setores onde um funcionário está diretamente ligado à jornada de trabalho. Segundo dados do IBGE, mais de 42% da força de trabalho brasileira está empregada em atividades de menor remuneração, onde até pequenas variações salariais comprometem o orçamento familiar.
Se uma jornada de trabalho fosse proporcionalmente ajustada para a escala 4×3, muitos trabalhadores poderiam ter uma grande redução em sua renda mensal, aumentando seu poder de compra e retreinando o consumo no mercado interno. Em um país onde o consumo das famílias representa cerca de 60% do PIB, essa redução teria efeitos em cadeia, desacelerando a economia em diversos setores, desde o comércio varejista até a prestação de serviços.
Com mais dias de descanso, a concentração de pessoas em atividades de lazer, compras e viagens aos finais de semana e dias de folga poderia sobrecarregar ainda mais a infraestrutura pública e os setores de serviço. Em cidades grandes, onde o transporte público e as vias de acesso já enfrentam gargalos logísticos, a mudança pode criar um fluxo mais intenso em horários específicos, prejudicando a mobilidade urbana e a organização da cidade.
Além disso, o aumento da demanda por locais de lazer e turismo, sem uma estrutura adequada, também pode resultar em serviços sobrecarregados, baixa qualidade no atendimento e até mesmo liberação de espaços públicos. Esses problemas, embora pareçam secundários, representam custos adicionais para o setor público, que precisaria investir em melhorias estruturais para lidar com os novos padrões de fluxo.
Setores de alta especialização, como tecnologia, engenharia e saúde, podem ser especialmente afetados pela mudança de jornada. Profissionais com alta qualificação e especialistas de substituição, como engenheiros, médicos e técnicos especializados, estariam menos disponíveis sob uma escala 4×3, impactando diretamente a continuidade de projetos e a qualidade dos serviços. Em um mercado globalizado, onde eficiência e rapidez são diferenciais, a queda na produtividade pode afetar a competitividade das empresas brasileiras frente às concorrentes internacionais.
Além disso, alguns setores poderiam encontrar uma fuga de talentos. Países que mantêm jornadas mais longas ou flexíveis seriam atrativos para profissionais especializados, resultando em uma perda de capital humano qualificado no Brasil e, a longo prazo, afetando a capacidade de inovação e desenvolvimento do país.
Embora a proposta de uma jornada de trabalho 4×3 tenha méritos apenas do ponto de vista de bem-estar, seus impactos econômicos podem ser extremamente negativos e contrários ao desenvolvimento do país. A adoção de uma nova escala de trabalho sem uma análise cuidadosa e sem políticas compensatórias pode comprometer a previsão das pequenas e médias empresas, aumentar o desemprego, reduzir o poder de compra da população e comprometer a qualidade da infraestrutura e dos serviços públicos.