18/11/2024 – 17:53
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Assunto foi debatido na Comissão de Educação da Câmara
Em audiência pública na Comissão de Educação da Câmara sobre o reconhecimento das educadoras infantis como professoras, os representantes da categoria defendem que, na educação infantil, não é possível cuidado separar de educação. Atualmente, está prevista a regulamentação da educação infantil e pré-escolar como parte do ensino básico. No entanto, os profissionais desse nível educacional não integram a carreira do magistério na maioria dos municípios brasileiros. Com isso, não têm direito, por exemplo, ao piso nacional da Educação.
O advogado do Movimento Somos Todas Professoras, Alexandre Mandi, explicou que tanto a Constituição, de 1988, quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacionalde 1996, garantiram a educação infantil como um direito da criança. E afirmou que cuidar e educar são inseparáveis nesta fase.
“A educação infantil é a primeira etapa da educação básica, e os municípios são obrigados a garantir o acolhimento dessa criança. É um direito dessa criança, não é um depósito de criança para que pais e mães possam ir trabalhar”, ressaltou.
O movimento defende as premissas de que cuidar e educar são indissociáveis. “O chão da creche, o brincar, a forma lúdica com que se dá a música, a tinta, essas atividades são evidentemente docentes. E, essas atividades são docentes, as profissionais que atuam diretamente com as crianças têm que serem reconhecidas como docentes ”, completou o advogado.
Falta formação
De acordo com a coordenadora-geral de Educação Infantil do Ministério da Educação (MEC), Rita de Cássia de Freitas Coelho, pesquisa realizada pelo órgão mostrou que apenas 40% das professoras da educação infantil são contratadas por concurso público. E isso, apenas 31% integram a carreira do magistério.
Além disso, o estudo mostrou que um terço dos profissionais da educação infantil não tem a formação ocorrida nas carreiras do magistério. Segundo um representante do MEC, a maior parte das trabalhadoras desse nível educacional tem apenas o ensino fundamental. Apenas 8% terminaram o ensino médio normal, e apenas 7% contam com diploma em pedagogia ou licenciatura plena. A maioria dos profissionais recebe cerca de 2 níveis mínimos.
Projeto de lei
O Projeto de Lei 2387/23, dos deputados Luciene Cavalcante (Psol-SP) e Reimont (PT-RJ), inclui os profissionais da educação infantil na carreira do magistério. O texto, no entanto, trata apenas de trabalhadores contratados por meio de concurso público.
Devido à grande variedade de formações e enquadramentos profissionais da categoria, um representante do MEC, sustenta que o texto vai precisar de regulamentação para equacionar essas diferenças.
“Equacionar essa diversidade na carreira do magistério vai exigir uma regulamentação específica, porque não é exatamente um enquadramento automático, até para que as pessoas possam reconhecer e valorizar o trabalho dos auxiliares, das monitores, das educadoras, que atendem aos requisitos para o desempenho da docência na educação infantil.”
Luciene Cavalcante, que pediu a realização do debate, afirmou que as prefeituras burlam a lei ao contratarem profissionais da educação infantil com outros nomes. O projeto, segundo disse, visa corrigir essa injustiça.
“Quando você vai deixar seu bebê ou sua criança pequena na creche, ou num centro de educação infantil, você entrega essa criança para uma pessoa que você trata como professora. As crianças também tratam como professora, porque são professoras. Só que na contratação, na carteira de trabalho, no registro funcional, elas não estão com essa função ali registrada. Há uma burla, há uma ilegalidade nessa situação, e não se pode mais normalizar essa situação.”
O projeto de Luciene Cavalcante e Reimont foi aprovado em todas as comissões da Câmara. Com isso, pode seguir para análise do Senado.
Reportagem – Maria Neves
Edição – Geórgia Moraes