Em uma reportagem publicada neste domingo (24), o jornal norte-americano The New York Times acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de “enterrar silenciosamente” a Operação Lava Jato, que foi descrita como “uma das maiores ações anticorrupção da história recente ”. O texto, escrito pelos jornalistas Jack Nicas e Ana Ionova, aponta que o STF tem rejeitado evidências e anulado condenações cruciais, afetando diretamente o legado da operação que expõe um esquema de corrupção de alcance internacional.
A reportagem intitulada “Um caso de corrupção que se cobre pela América Latina está sendo desfeito”, destaca que decisões recentes, especialmente do ministro Dias Toffoli, desenvolvem para desmantelar o esforço anticorrupção. O magistrado anulou condenações de executivos de grandes empresas como Marcelo Odebrecht, da Odebrecht (atualmente Novonor), e Raul Schmidt, além de suspender multas aplicadas contra empresas como a própria Odebrecht e a JBS.
O New York Times questiona a legalidade dessas decisões, afirmando que elas não apenas beneficiam os envolvidos, mas também enfraquecem a compensação do Brasil no combate à corrupção. O texto destaca que a Lava Jato não teve impacto apenas nacional, mas revelou esquemas em países como Peru, Argentina e Panamá, que agora também sentem os reflexos das anulações promovidas pelo STF.
Entre as justificativas apresentadas por Toffoli está o argumento de que algumas provas usadas pela Lava Jato foram obtidas ilegalmente e, por isso, não conseguiram sustentar condenações. O jornal, no entanto, aponta que essas decisões reacendem o debate sobre a politização do Judiciário brasileiro, especialmente pela relação anterior de Toffoli com o Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A matéria enfatiza o papel central de Dias Toffoli no “desmonte” da Lava Jato. Antes de ser indicado ao Supremo por Lula em 2009, Toffoli atuou como advogado do PT e conselheiro jurídico do ex-presidente. Essa conexão, segundo o New York Times, levanta questionamentos sobre sua imparcialidade em decisões que afetam diretamente aliados do partido.
Entre as ações mais emblemáticas está a anulação das instruções de Lula, que havia sido presa em 2018 por corrupção e lavagem de dinheiro. O STF considerou o julgamento preliminar de Sergio Moro parcial, levando à solução do ex-presidente em 2019. O jornal descreve essas decisões como parte de um movimento que estaria revertendo avanços no combate à corrupção no Brasil.
“Uma das maiores campanhas anticorrupção desfeitas”
Para o New York Times, a Lava Jato foi um marco no enfrentamento da corrupção na América Latina, mas as recentes decisões do STF ameaçaram deslegitimar seu legado. “Provas rejeitadas, multas anuladas e condenações revertidas estão minando a confiança pública na capacidade do Brasil de responsabilizar os poderosos”, afirma o texto.
O jornal conclui que o Brasil, antes da referência em ações anticorrupção, pode estar retrocedendo. Enquanto o STF defende suas decisões como garantidas do devido processo legal, críticos internacionais, como o New York Times, alertam para o impacto dessas ações na imagem do país e na confiança em suas instituições.