Em meio à crise deflagrada pelo avanço do projeto de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), publicou nesta terça-feira (15/4) uma mensagem aparentemente genérica sobre democracia — mas que, segundo aliados, foi milimetricamente redigida para mandar um recado claro ao Palácio do Planalto.
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Na postagem, Motta escreveu:
“Democracia é discutir com o Colégio de Líderes as pautas que devem avançar. Em uma democracia, ninguém tem o direito de decidir nada sozinho. É preciso também ter responsabilidade com o cargo que ocupamos, pensando no que cada pauta significa para as instituições e para toda a população.”
Tradução do recado, segundo interlocutores: ele não vai engavetar o requerimento de urgência para a anistia, mas também não vai pautá-lo por impulso ou pressão direta — nem de um lado, nem de outro.
Na segunda-feira (14), parlamentares da oposição protocolaram o requerimento com 264 assinaturas — sete a mais que o mínimo necessário para permitir que o projeto avance direto ao plenário.
Motta sinalizou que não vai tomar uma decisão monocrática e que o requerimento será discutido com o Colégio de Líderes, o que, na prática, pode empurrar a tramitação do projeto para um limbo de indefinição.
Segundo um aliado próximo de Motta, a mensagem serve como alerta ao governo Lula de que, se quiser barrar o avanço da anistia, terá que se mexer.
A interpretação é simples: se o governo ficar de braços cruzados esperando que Motta resolva a questão sozinho, pode acabar se surpreendendo com a anistia votada e aprovada. O presidente da Câmara, por mais que não endosse o conteúdo do projeto, não quer se tornar o fiador de decisões impopulares com sua base ou se posicionar como censor da pauta. Ele quer — e exige — consenso político mínimo.
Motta está, politicamente, no centro do furacão. Embora tenha sido avisado com antecedência por parlamentares bolsonaristas de que o requerimento de urgência seria protocolado, ele também vem recebendo pressão constante do governo para não pautar o texto. A saída encontrada foi não se comprometer com nenhum dos lados publicamente, enquanto joga a responsabilidade de articulação nas costas dos atores políticos diretamente interessados.