O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu nesta quinta-feira (3) à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre automóveis, aço e alumínio brasileiros. Em discurso durante o evento “Brasil Dando a Volta por Cima”, organizado pelo governo, Lula classificou a medida como retrógrada e inaceitável no atual cenário internacional e prometeu retaliação baseada na reciprocidade comercial.
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“O Brasil respeita todos os países, do mais pobre ao mais rico, mas exige reciprocidade. Responderemos a qualquer tentativa de protecionismo que não cabe mais hoje no mundo moderno”, declarou.
A resposta do governo será, segundo o presidente, baseada na recém-aprovada Lei da Reciprocidade, votada na quarta-feira (2) pelo Congresso Nacional. A legislação permite ao Brasil impor medidas comerciais e ambientais simétricas às de outros países, sendo vista como uma ferramenta de retaliação diplomática e comercial.
“Diante da decisão dos EUA de impor sobretaxa aos produtos brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender nossas empresas e nossos trabalhadores brasileiros”, afirmou Lula, em tom enfático. “O Brasil não bate continência para nenhuma outra bandeira que não seja a verde e amarela.”
A ofensiva tarifária de Trump ocorre em meio à escalada de seu discurso nacionalista e ao início de sua campanha de reeleição. O republicano tem chamado o 2 de abril de “dia da libertação”, e prometido restaurar a proteção à indústria americana como prioridade absoluta. As sobretaxas sobre automóveis fabricados fora dos EUA e sobre exportações de aço e alumínio brasileiros, anunciadas em março, consolidam esse reposicionamento agressivo na política comercial americana.
Apesar das tensões, Lula havia sinalizado, dias antes, disposição para negociar com Washington. Durante passagem pelo Vietnã, o presidente afirmou não ver problemas em conversar diretamente com Trump para evitar as tarifas. A tentativa de diálogo, no entanto, foi ignorada pelo governo americano, que manteve as medidas sem aviso prévio.
Em sua fala, Lula também fez acenos ao Congresso brasileiro, buscando destacar uma frente unificada no enfrentamento externo. Aproveitou para comparar o desempenho legislativo de seu governo com gestões anteriores.
“Quero agradecer aos deputados e senadores que são responsáveis por apoiar a maior quantidade de projetos já aprovados por um governo em apenas dois anos. Teve presidente com ampla maioria no Congresso que não conseguiu aprovar esse tanto”, afirmou.
A retórica de “soberania econômica” adotada por Lula ecoa parte do discurso que o próprio Trump mobiliza nos Estados Unidos — uma ironia geopolítica que não passou despercebida nos bastidores diplomáticos. Ambos, ainda que em espectros ideológicos opostos, usam a retórica nacionalista como escudo político em meio ao desgaste interno.
O problema, para o Brasil, é que o impacto da taxação americana será direto sobre setores estratégicos da indústria nacional — já fragilizada por baixa produtividade, alto custo logístico e dependência do mercado externo. Economistas alertam que a retaliação brasileira, embora necessária do ponto de vista político, pode ser limitada em escala e eficácia, dada a dependência comercial do Brasil em relação ao mercado dos EUA.
Com a Lei da Reciprocidade sancionada, o Planalto agora precisa calibrar até onde vai a retaliação, para evitar uma escalada de tensões comerciais que prejudique ainda mais a economia. A promessa de Lula de agir em consonância com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) deve ser posta à prova nas próximas semanas, quando o Itamaraty formalizar as medidas de resposta.